Kleshas
Patañjali denomina as causas da miséria e do sofrimento humanos de klesas - palavra sânscrita que significa dor, aflição ou miséria. O primeiro dos cinco klesas é avidya (ignorância), seguido por asmita (egoísmo), raga (apego), dvesa (aversão) e abhinivesa (algumas vezes traduzido como medo da morte, por vezes é melhor compreendido como o amor extremado à vida, ou à vontade compulsiva de viver).
Entre si, os klesas desenvolvem um processo seqüencial de causas e efeitos, onde uma ação leva a uma reação, e assim sucessivamente. Não são compartimentos ou estados estanques ou separados. Para Mircea Eliade, Patañjali descobriu nos klesas:
"(...) cinco ‘matrizes’ produtoras de estados psicomentais(...) Não se trata de cinco funções psíquicas separadas pois o organismo psíquico constitui um todo, embora seus comportamentos sejam múltiplos. Todas as classes de vritti [modificações mentais] são ‘dolorosas’ (klesa); por isso a experiência humana em sua totalidade é dolorosa". (em Yoga, Imortalidade e Liberdade)
O árduo trabalho do yogi é trabalhar e manipular as várias formas mentais e comportamentais assumidas pelos vrttis (que constituem um fluxo psicomental ininterrupto) até conseguir sua total anulação. Essas incontáveis formas aprisionam o corpo e a mente dos seres humanos, transformando-os em escravos ao invés de senhores de sua própria vida. Eliade ressalta ainda que:
"Só o Yoga consegue suprimir os vritti e abolir o sofrimento."
Mas como alcançar a liberdade suprema?
O sutra número dois oferece a definição "Yoga é a cessação dos turbilhões da mente". Em sânscrito "yogaschittavrittinirodhah". Em outras palavras, Yoga é a parada voluntária dos pensamentos. Isso se traduz, entre outras coisas aparentemente impossíveis de se alcançar, no controle da mente ao ponto de transcendê-la num estado chamado samadhi. Alcançar esse estado, para o qual não há uma descrição possível pelo uso das palavras, é a meta do sistema delineado por Patañjali (como também para todos os demais sistemas de Yoga). Porém, para alcançar tal intento, Patãnjali esquematizou um grupo de técnicas divididas em oito (=asht) partes (=anga), chamado Ashtanga Yoga.
Cada uma dessas oito partes estão intimamente interrelacionadas entre si, bem como com a totalidade do processo. Não há como separá-las em compartimentos estanques, pois a parte anterior é sempre um pré-requisito para a posterior, que deve ser alcançada apenas depois da correta prática de sua antecessora. Portanto, não há como pular etapas, pois é a partir desse relacionamento contínuo que se vai consolidando a estrutura sólida necessária à prática do Yoga.
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