domingo, 8 de agosto de 2010

ASHTAANGA YOGA MANTRAM E SEU SIGNIFICADO PROFUNDO - Yoga São Caetano do Sul

Om vande gurunam charanaravinde
sandarshita svatma sukhava bodhe
nih shreyase jañgalikayamane
samsara halahala mohashantyai

abahu purushakaram
shankhachakrasi dharinam
sahasra shirasam svetam
pranamami patañjalim Om

Tradução:
Saúdo os pés de lótus dos mestres, que revelam o autoconhecimento, que me fazem realizar a verdade que é a plenitude final; evitando o feitiço, como o curandeiro da selva, [o autoconhecimento] aquieta a ilusão que vem do veneno do ciclo de encarnações.
Reverencio Patañjali que tem a forma humana até a cintura (o resto tem a forma de uma cobra), (com suas quatro mãos) segura uma concha, um disco e uma espada (com a quarta ele faz o gesto de ausência de medo), tem mil cabeças e cor clara.

Introdução:
Quando o mantra é entoado se pratica uma ação mental pedindo algo ou reconhecendo algo, trazendo, portanto, resultado. Como a intenção é um fator importante na ação, sem o conhecimento do significado, neste caso, não tem como este quesito estar presente. Também existem, tradicionalmente, pessoas que cantam mantra-s para memorização, desconhecendo seus significados, com a intenção de preservação dos textos de geração para geração.
Este canto e o praticado nas aulas de Iyengar Yoga são as invocações que se fazem anteriormente ao estudo dos Sutras de Patañjali. Cantados nas práticas de Hatha Yoga, honram o conhecimento advindo do estudo e vinculam a disciplina à sua parte filosófica, por assim dizer, apoiada nos sutras.
É importante salientar que a tradução do sânscrito envolve uma compreensão de todo o verso e uma interpretação, caso contrário pode ficar ininteligível ao leigo. Além, uma mesma palavra em sânscrito possui diversos significados. Alguns tradutores optam por completar as palavras literais, porém sem perder o sentido da frase.

Do mantra:
É um mantra devocional, de agradecimento e entrega aos Mestres. Faz referência à flor de lótus pura e intocada. As pétalas de sua flor possuem um óleo que as protege do toque da água. O lótus nasce no lodo, seu caule atravessa toda a água e, por fim, a flor desabrocha na superfície. Da mesma forma o conhecimento permanece intocado mesmo que viva no meio, digamos, mundano.
Através do conhecimento transmitido pelo guru o discípulo fica livre da ilusão do samsaara. A ilusão nada mais é do que a realidade relativa em que vivemos e para a qual atribuímos ser absoluta. Só a tradição de ensinamento mestre-discípulo sem opiniões pessoais e com fidelidade única (pura) pode revelar ao discípulo todo o conhecimento necessário para ser livre de condicionamentos. O samsaara, nos trazendo uma falsa identificação de quem somos, é chamado de veneno que intoxica a mente com sofrimento. Só a eliminação deste veneno (ilusão), através do antídoto (ensinamento) é que se alcança a plenitude (pode ser compreendida, inicialmente, por felicidade).
O mantra deixa claro que não são as práticas físicas que causam a libertação. Aaasana-s, praanaayaama-s, meditações, etc., são suportes para que o corpo tenha saúde e a mente tenha foco e concentração. A doença é uma causa de fracasso para o yogi e é apontada por Patañjali como um dos nove obstáculos ao autoconhecimento. Tanto que as séries de aasana-s do Ashtaanga Vinyasa são chamadas de cikitsa (terapêutica), ou seja, possuem objetivo enunciado e pré-determinado.
Independente de quantos aasana-s fizer ou qual postura conseguir elaborar, aasana é só aasana e com finalidade específica. O mesmo se diz de todas as demais técnicas do Hatha Yoga, como drshti-s, shatkarma-s, etc.
No segundo verso são indicados os símbolos do poder e habilidade do guru para que a ignorância de si mesmo, pertencente ao discípulo, seja destruída. Os naga-s, seres divinos metade homem metade serpente, são representações comuns no hinduísmo. A serpente é o símbolo da vida, infinita e atemporal, que sustenta todo o universo. As mil cabeças indicam que todas as direções do universo são observadas e que Patañjali é um avataara (encarnação) do deus serpente Ananta. Este, desejoso por ensinar o Yoga ao mundo, manifestou-se na forma do sábio nas palmas das mãos de uma yoginii. A cor clara remete à luz do conhecimento.
As quatro mãos sustentam uma concha, um disco e uma espada. A mão que não é mencionada é a que sempre está em abhayamudraa (gesto para dissipar o medo) em todas as divindades. É o gesto onde a mão é apontada para cima, mostrando-se a palma ao discípulo, significando “não tema”.
A concha é a representação dos cinco elementos da prakrti (matéria) que são terra, água, fogo, ar e espaço. Quando soprada, a concha produz o som do Absoluto que, segundo os Veda-s, deu origem ao universo, o pranava, o Om.
O disco é uma arma tradicional nas deidades e é uma arma utilizada para destruir as ações inapropriadas, o adharma. Esta destruição vem através da pratica dos yama-s e niyama-s, normas de condutas éticas e disciplinas de estudo e purificação. Também, como todo círculo, representa o infinito, sem início nem fim. É a indicação de que o mundo foi, é, e será sempre permeado por ações apropriadas e inapropriadas enquanto o autoconhecimento não for realizado pelo discípulo.
A espada, ligada ao conhecimento e à discriminação, é utilizada para cortar a cabeça do “demônio da ignorância” e trazer a luz para a escuridão. No hinduísmo, as características do universo são representadas por deidades ou demônios. Estes nada mais são do que os que agem pelo adharma, pelo ego, levados pelos desejos e pela confusão quanto à sua própria natureza.
Assim, devemos cantar o mantra com o significado em mente, para que a luz do conhecimento termine por revelar o que já somos, entendendo que nada há que ser produzido por qualquer tipo de ação. Nossa natureza é plenitude ilimitada. Sofremos por acreditar que somos o limitado, pois nos sentimos dessa maneira. Só o guru, liberado do samsaara, é capaz de revelar nossa identidade com o Todo.
Om Shri Gurubhyo namah!

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